segunda-feira, 16 de abril de 2012

Julie e o desaparecimento da infância

Todo mundo já deve ter visto os famosos vídeos de Julie Lourenço, li que a menina tem 3 anos, mas não quis acreditar. Caso alguém ainda não tenha ouvido falar, clica aqui antes de ler o post, para se ter uma noção da coisa. Vi uma galera compartilhando os vídeos dela, achando super fofo e engraçado. De fato, a menina é um prodígio, muito inteligente e, sim, fofa e engraçadíssima, mas o que me preocupou é que ninguém achou estranho uma menina dessa idade saber usar toda essa maquiagem. Galera, eu só fui ouvir falar em Duda Molinos aos 19 anos!
Ok, muitos vão argumentar que faz parte da infância experimentar, que brincar com maquiagem é normal. Sim, concordo, mas até que ponto? Eu tinha um monte de batonzinhos quando era menor (até comia eles, eram gostosos!), ganhei uma série de kits de sombras, maquiava barbies, mas curvex, blush, corretivo, só fui saber o que era isso há pouquíssimo tempo! Meu primeiro lápis de olho eu usei aos 15 anos (numa vibe meio rock star). Uma menina de 3 anos saber como passar rímel, realmente é preocupante!
E a Julie é só um exemplo, não é nada difícil encontrar criancinhas fazendo coisas de adulto e todo mundo achando
lindo. Quando eu entro na ala infantil de uma loja de roupas, não sei se choro ou se morro de rir. Parece que querem fabricar pequenos adultos em série, vamos começar a padronizar desde já.
Brinquei no facebook dizendo que ia lançar uma campanha contra a bonequização das filhas. Gente, a coisa é séria. Graças a uma série de fatores, incluindo a forte influência dos meios de comunicação e do consumismo, a infância de fato vem desaparecendo, e isso me parece mais flagrante nas meninas.
Desde pequenas, já ganhamos brinquedos que dão dicas do que devemos fazer das nossas vidas: máquina de costura, cozinha, bebê que faz caquinha, vassourinha, enfim. Num universo ilimitado, que vem em todos os tons de rosa e roxo. Agora, as meninas ainda são ensinadas a virar objetos antes mesmo de saber o bêabá. Brincar não é mais prioridade, a beleza e o dinheiro vêm em primeiro lugar. 

Daí temos os casos extremos, como as pequenas misses, que todo mundo adora apontar o dedo e dizer que é um absurdo com a criança, que é a mãe querendo ficar rica a custo da filha. Todo mundo chamando de montra a mãe que deu um vale silicone pra filhinha de 5 anos, mas ninguém enxerga que o inferno está muito mais próximo do que pensamos. Na sandália da Xuxa que ou paralisa a menina, ou a faz torcer o tornozelo toda vez que tentar correr. Para quem pensar que eu estou exagerando (e pra quem não achar também, porque é uma ótima dica), sugiro que assistam pelo menos ao trailer do documentário "Criança, a alma do negócio", que fala da influência do consumismo no desenvolvimento das crianças. Para quem quiser assistir o documentário inteiro, a partir do trailer vocês acham rapidinho no youtube!
Vamos lá, gente, brincar é uma parte importantíssima do aprendizado. Brincar de verdade, correr, se sujar, colocar a mão na massa. Não sou nenhuma perita no assunto, mas o pessoal de psicologia há de concordar que, no mínimo, brincar é parte fundamental do desenvolvimento psicomotor (por favor, corrijam aí se eu estiver falando baboseiras!). Agora, mais do que nunca, do jeito que esse mundo anda, precisamos mesmo é de pessoas que olhem mais umas para as outras, jamais vamos conseguir isso se ensinarmos às crianças desde cedo a olharem somente para si.

4 comentários:

  1. Adorei a postagem!
    O modo como tratamos a infância irá refletir diretamente em como serão os brasileiros do futuro, nesse caso, doentes e consumistas. Como seria possível criar políticas de regulamentação do conteúdo infantil? Acho que só o tempo responderá. O que vc acha Sarah?

    ResponderExcluir
  2. Eu acho que por N motivos, a publicidade infantil deve ser regulada. Caso queira, dê uma olhada nesse link aqui: http://www.andi.org.br/politicas-de-comunicacao/page/regulacao-da-publicidade-infantil
    Agora, só regular a publicidade infantil não dá, não é uma frente única. No documentário que eu cito no post, tem um momento que se fala da propaganda de cerveja, o menino vê isso e acha que a mulher tem de ser gostosa pra ele. A menina vê isso e também acha que tem de ser gostosa para o outro.
    Regular a publicidade ajuda, mas nosso país precisa seriamente parar de discutir o sexo dos anjos e olhar um pouco para o amontoado de sujeira debaixo do nariz, e, claro, limpar isso tudo! Precisamos de uma educação decente, em todos os sentidos da palavra, não só (mas também) a educação nas escolas, mas em todos os âmbitos da vida de crianças e adultos!
    Enquanto a gente não perceber que a responsabilidade é de todo mundo e não pararmos de uma vez com esse empurra empurra, vamos perdendo geração por geração. E a tendência é só piorar!

    ResponderExcluir
  3. No documentário "The Corporation" há uma parte em que uma publicitária, ou sei lá qual o rótulo para o que ela faz, descreve como é feito o marketing para crianças... Só pra ilustrar um pequeno exemplo: são feitas pesquisas com pais de crianças pequenas perguntando o quão irritante é a encheção de saco das crianças, quando estas querem consumir um determinado produto, pra determinar o quanto as empresas precisam bombardear as crianças com propagandas para que elas possam encher o saco dos pais até o limite da paciência, e é aí que os pais finalmente entregam o produto para os filhos... citando a fala dessa mulher durante o filme: "Entre 20% a 40% das compras seriam evitadas se os filhos não enchessem o saco dos pais. Por exemplo, um quarto das visitas aos parques temáticos não ocorreria se os filhos não pressionassem os pais. (...) É possível manipular consumidores para que queiram algo e comprem seus produtos, é um JOGO. (...) Eles são os consumidores adultos do futuro, comece a falar com eles agora, inicie a relação mais cedo e você os terá quando forem adultos. Alguém me perguntou - Lucy, isso é ético? Você está basicamente manipulando essas crianças... - Bom... É ético? Não sei. Nosso papel na Iniciative é divulgar produtos, se os produtos são divulgados com uma execução criativa em uma mídia, então fizemos nosso trabalho" E a mulher diz tudo isso e mais sempre com um sorriso no rosto.

    Se, legalmente fosse proibido fazer esse tipo de (eu chamo de lavagem cerebral) propaganda, os marketeiros dariam um jeito de fazer as manipulações de forma mais velada... Nesse mesmo filme tem um exemplo bastante explícito dessa manipulação às escuras... Recomendo o filme.

    Como, então, lutar contra isso? A resposta parece fácil e vem automaticamente à cabeça: EDUCAÇÃO... Alguém vê a problemática disso? Isso nunca foi segredo, sim, é educação o que precisamos, todo mundo sabe disso há anos e ninguém faz nada a respeito, por que? Porque as pessoas que têm o poder nas mãos para mudar a educação deste país são patrocinadas justamente por aqueles que não têm o menor interesse na consciência crítica da população, pelo contrário, elas precisam da ignorância do povo para manterem-se no poder... Logo, a culpa está no sistema. O sangue inocente suja as mãos dos que estão no poder, dos nossos vereadores, deputados, governadores, senadores, presidentes, juízes, policiais, professores... Certo? ERRADO! O sangue está nas suas mãos, está nas minhas mãos, está nas mãos de todas as pessoas que sabem que é assim que o sistema funciona e não faz nada para mudá-lo. A força do sistema está, não nas mãos dos governantes, está nas mãos de quem os coloca lá, e não estou fazendo uma crítica aos votos que fazemos, boa parte das vezes não temos muita opção e votamos nos menos piores... A crítica que eu faço é destinada às pessoas que percebem que existe um problema, mas não se manifestam a respeito. Não começam a educação dentro de suas próprias mentes, de suas próprias casas, de suas próprias ruas, de seus próprios bairros, de suas próprias cidades, de seus próprios estados, de seus próprios países.
    Enquanto não nos vermos como parte integrante do problema, é muito difícil se enxergar como possível parte da solução.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. ôpa, corrigindo erros gramaticais...

      ...está nas mãos de todas as pessoas que sabem que é assim que o sistema funciona e não FAZEM nada para mudá-lo...

      ...enquanto não nos VIRMOS como parte integrante do problema...

      só vi isso, se tiver algo mais, peço perdão, estava distraída...

      Excluir