segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Não sou pra casar

Fico me perguntando o que minha santa avó acharia dessa constatação, justo ela que passou tanto tempo tentando me ensinar como deve se comportar uma moça pra casar. Não queria ignorar aquela educação, que ela dirigiu especialmente pra mim, sua princesinha. Mas, que jeito, desobedeci.
Se a vovó soubesse que odeio lavar louça, será que ela ia pirar? E se ela soubesse que eu não sei me comportar? Sento de pernas abertas e falo palavrão, quase um vício de linguagem. E não mantive a castidade antes do casamento (que casamento?). E o pior, vó - não me arrependo!
Nem sempre obedeço e adoro dizer o que penso. Além disso, não sei dissimular. Uma moça direita deve manter o mistério, mas tudo isso me dá tanto tédio. Prefiro poupar meu tempo e ir direto ao ponto. Não sei jogar, coisa que, ouvi falar, complica qualquer matrimônio.
Mas se casamento for só fazer as vontades do meu marido,  eu passo. Desculpa, mas não tenho interesse em ser patrimônio de ninguém. Se alguém me quiser bem, tem que ser assim. Se não, tudo bem também.
Prometo manter o corpinho enquanto eu estiver afim, mas não vou fazer greve de fome só pra segurar homem. Prometo amar mais do que tudo e prometo me fazer feliz. Se, pra isso, uns e outros me chamarem de meretriz, prometo não me importar.
Não garanto que isso tudo me impeça de subir ao altar. Vai que um desavisado ache sexy esse meu gosto pela liberdade? E se ninguém achar, não me dou por perdida. Eu prefiro a vida sozinha, só minha, do que esperar até a morte pra me separar de alguém que não me diz nada.
Desculpe se fugi aos planos e cresci desgovernada.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sobre essa falta de representação

Ontem eu finalmente consegui assistir Miss Representation. Trata-se de um documentário que denuncia as formas grotescas como as mulheres são tratadas pela mídia. O título traz muitos significados: misrepresentation significa "deturpação"; miss representaion (com dois S's) significa "falta de representação", mas também faz alusão ao termo "miss", que quer dizer "dama" ou "senhorita", o que resume muito bem o conteúdo do documentário. Eu já tinha lido alguns dos dados no blog da Lola, mas só me dei conta do absurdo da coisa ao assistir o filme na íntegra. Fiquei com medo e me senti presa, parece que ser mulher é não ter pra onde correr, é andar na corda bamba, tentando equilibrar cada vez mais papéis conflitantes que são jogados em cima da gente.

 Lembro da professora Tânia Montoro nos dizendo como foi difícil abrir a disciplina (optativa) "Comunicação e Gênero", porque a reitoria não considerava o assunto importante na formação dos alunos. Ainda bem que a professora bateu o pé, porque eu não acho que esse blog existira se não fosse por ela. Quando eu comecei a escrever aqui, não achei que ia dar um viés feminista pros textos, minha intenção era só analisar discursos e representações na mídia. Mas não teve como deixar o feminismo de lado, não quando essa falsa de representação é tão flagrante.

Os dados de Miss Representation referem-se à mídia estadunidense, mas não é difícil traçar um paralelo com a mídia brasileira. Até porque, vamos combinar, dá pra contar nos dedos os programas que nós não copiamos dos EUA, né? Aqui nós temos problemas seríssimos, é só lembrar daqueles casos patológicos de publicidades como as da Hope e da Marisa, que, mesmo tendo um público consumidor quase que completamente composto por mulheres, ainda apresentam um conteúdo misógino, pra dizer o mínimo.

Na política, quando finalmente elegemos a primeira presidente mulher da nossa história, insistimos em masculinizar seu comportamento, chamando-a de durona, autoritária, rigorosa... Coisa que não aconteceria com um homem ocupando o mesmo cargo de poder, como a própria presidenta argumentou nessa entrevista ao Fantástico. Aliás, quando o time de ministras da Dilma foi escalado (que, aliás, não chega a 30% dos ministérios), a Marie Claire resolveu fazer um perfil com cada uma delas, com perguntas sobre vaidade e família, o que eu nunca vi acontecer com nenhum ministro homem.

Quanto às novelas, quem lê esse blog já deve ter visto alguma coisa a respeito, as representações das mulheres ainda caem nos mesmo velhos estereótipos, salvo raras exceções. Isso porque, já que o texto já tá ficando grande demais, eu nem vou falar do cinema e do jornalismo!

É por isso que a gente tem de continuar fazendo o que a gente sabe fazer: questionar, propor mudanças, apontar os problemas e exigir soluções. Esses dias eu vi um monte de gente divulgando um novo blog, o Escrevendo uma Feminista, e eu pensei "Caramba, mais coisa pra ler?" (porque eu já leio bem uns 10 blogs feministas todo dia). Depois de ver o filme, cheguei à conclusão de que tem que ser assim mesmo. A gente tem que fazer o que pode, de todas as maneiras possíveis. Quanta gente parou pra prestar atenção no sexismo depois de ler a Lola ou a Feminista Cansada? Parece pouco diante da força dessa cultura machista, diante desse povo todo que acha o sexismo uma coisa normal, mas, mesmo aos pouquinhos, a gente tá conseguindo alguma mudança. O negócio é continuar!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Love my nose day

Hoje o relato é pessoal. Pra quem não sabe, hoje é o Love Your Body Day, ou seja, é o dia de amarmos nossos corpos do jeitinho que são, tentando escapar um pouco desses padrões absurdos que nos enfiam goela abaixo todos os dias. Hoje é dia de dizer "Não, eu não quero fazer plástica!" ou "Eu amo cada um desses pneuzinhos" ou, ainda, "Não interessa o que você acha, essa saia fica LINDA em mim!". Apesar de já estar de saco cheio de todo mundo vir reclamar comigo por causa dos meus quilos a mais, já não me importo tanto a ponto de não fazer o que eu não quero, quando e se EU, a dona do corpo, estiver interessada em emagrecer, eu resolvo.
Mas não é disso que eu quero falar. Acho que o LYBD fala sobre auto-aceitação, por isso vou falar do meu nariz. Eu sempre gostei muito do meu corpo, ainda gosto, mas só aprendi a respeitar meu nariz há muito pouco tempo. Imaginem que, lá pelos 8 anos, eu já pedia pra minha mãe pra fazer uma plástica, porque o meu nariz me deixava feia. Com 8 anos de idade eu já achava que sabia o que era ser feia!
Foi assim por muito tempo, eu diria que até cerca de 2 anos atrás, quando eu descobri que boa parte do meu problema era, basicamente, racismo. É estranho falar isso de mim mesma, mas não tem outra palavra. Meu pai é negro, minha mãe era branca e sempre me disseram que eu nasci extremamente parecida com os dois, embora eles fossem bem diferentes fisicamente. Da minha mãe, eu herdei o olhar e os cachos soltos. Do meu pai, eu herdei o formato do rosto

e o nariz.
Ouvi piadinhas a vida inteira, porque meu nariz é largo. Eu detestava meu nariz, porque as pessoas diziam que era feio, viviam me chamando de nariz-de-coxinha, nariz de batata, até de aspirador de pó, por causa do tamanho das minhas narinas. Agora, não é no mínimo suspeito eu ter sido zoada a vida inteira por um traço tipicamente negro?
Acho que o LYBD também serve para mostrar que a gente acha muita coisa bonita porque a sociedade diz que é bonito. Mas é difícil esperar espaço para o meu nariz grosso em um lugar povoado por um racismo velado. Eu penso em quanto tempo eu levei para reparar o quão estranho é Taís Araújo, Camila Pitanga, Sheron Menezes, Rihanna, Beyoncé, todas lindas, terem narizes finos, quando a grande maioria dos negros não os têm. Não é coincidência! É pelo mesmo motivo que Laren Galloway é considerado o bebê mais lindo do mundo, é porque elas são negras com traços de brancos. Não to dizendo que, por causa disso, as moças deveriam ser rechaçadas ou que não deveríamos achá-las bonitas ou, menos ainda, que elas são menos negras por conta de seus traços. Não são elas que devemos questionar, mas o padrão de beleza que nos ensinou que devemos ser diferentes do que somos para sermos considerados bonitos.
Sinto-me estúpida por ter demorado tanto tempo para perceber que o meu nariz não é um problema. Parecia ser muita vitimização achar que o problema são os outros, que tentam me ensinar o que é feio. O problema é esse discurso desculpista que diz "Não é racismo, é a minha opinião pessoal. Eu, particularmente, prefiro olhos azuis e traços europeus", só que essa opinião não tem nada de particular! Todo mundo usa essa desculpa. E é isso mesmo o que é, uma desculpa e eu não vou mais aceitá-la! Agora eu sou dona do meu próprio nariz que, aliás, fica muito bem aonde está.

sábado, 29 de setembro de 2012

Guerra à Guerra!

Tanta coisa acontecendo no mundo, tanta coisa acontecendo na minha cabeça e eu aqui, deixando esse blog se encher de teias de aranha. De novo e sempre: shame on me!

Pra variar só mais um pouquinho, hoje vou falar de novelas. Aliás, mais especificamente, vou falar por que eu não to nem um pouco inclinada a ver a próxima novela das 19h. Na boa, Guerra dos Sexos é um assuntinho tão last summer, não acham? E me incomoda um bocado! Só de ver a primeira chamada da novela eu já ficava enjoada e com instintos de jogar minha velha televisão janela abaixo. A coisa consistia em um monte de homens e mulheres vindos de lados opostos, eles gritavam "Elas acham que aguentam o rojão, só se for pra piloto de fogão" e elas gritavam "O homem pensa que o mundo é seu, mas só serve pra trocar pneu" e no final todo mundo se pegava. Totalmente sem graça, degradante, além de só servir pra fomentar as velhas picuinhas de "homem é melhor que mulher" e vice e versa.

Como a novela estréia na segunda-feira, já começaram as novas chamadas apresentando os personagens, same old crap: de um lado homens super estereótipos do machismo, dizendo que mulher devia ficar em casa lavando roupa e, do outro lado, mulheres que querem ser independentes, mas que sempre se rendem a um grande amor. Espero, numa boa, que ninguém engula isso!
O preocupante de aparecer uma novela como essa é que, de certa forma, ela reforça a noção errônea de que o feminismo é o oposto de machismo e, pior, que ser feminista é odiar homens. Duvido que eles vão ter a coragem de usar mesmo a palavra "feminismo", mas a globo não precisa ser direta pra formar discursos assim. Só quero ver, num futuro próximo, as pessoas tomando a novela como embasamento. Não duvido nada!

Então, pra você que não sabia, já vou esclarecendo que o feminismo luta pela igualdade entre gêneros. Ou seja, não queremos extinguir os homens e nem achamos que as mulheres são melhores que os homens. Isso também quer dizer que não aceitamos ser inferiorizadas. Se lutamos tanto assim, é pra garantir para nós, mulheres, direitos que os homens sempre tiveram, o voto, como muitos gostam de lembrar, é um direito que conquistamos, mas muita gente deixa de perceber direitos ainda mais básicos que as mulheres não têm, como o direito ao próprio corpo - sinta o absurdo da coisa! Agora, voltando à igualdade de gênero, também não queremos ser superiores aos homens, claro que não, o feminismo também luta para que homens tenham direito de se expressar do jeito que quiserem, gostar do que quiserem, sem serem rejeitados por não se enquadrarem nos papéis mofados, impostos pelo patriarcado. E isso é uma coisa que a novela não vai te dizer!


É claro que eu não posso falar por todas as feministas e nem me enquadrar em todos os feminismos. O feminismo é um movimento plural, tem diferentes vertentes e desdobramentos. Só posso assegurar que ser feminista não tem nada a ver com castrar e/ou escravizar os homens, isso a gente deixa pra teledramaturgia!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Entre princesas e cachorras

Hoje eu quero falar sobre um assunto complicado, mas acho importante a gente discutir em vez de simplesmente rir e optar por não entender. Estou introduzindo o assunto dessa maneira, porque eu vou falar a respeito do "Culto das princesas", que é ministrado pela pastora Sarah Sheeva. Para quem não sabe do que eu to falando, trata-se de um culto evangélico que prega a castidade e a pureza sexual entre mulheres, agora também tem uma versão do culto para os homens, o "Culto dos príncipes", que prega a mesma coisa.
No que me diz respeito, até aí tudo bem, sabe? É complicado falar sobre isso, justamente porque lida com convicções religiosas e opiniões pessoais, enquanto tem gente que acredita piamente em tais princípios, tem mais um montão de gente fazendo piada, rindo desse tipo de coisa. Isso eu acho horrível. Já mencionei aqui que eu tenho minhas convicções religiosas, estudo a bíblia e sou toda avessa a preconceito religioso, acho que o modo como uma pessoa escolhe viver sua vida só diz respeito a ela, hoje em dia chove piadinha para quem decide "se guardar até o casamento", acho tenso (nota mental: fazer um post sobre virgindade).
Bom, dito isso, agora vamos tratar do que realmente me incomodou. Não vejo problema em querer ser pura e casta, o problema é quando você se acha melhor do que os outros por conta disso. O culto diferencia muito bem princesas de cachorras, usa termos pejorativos para se referir a mulheres que gostam de sexo ou que simplesmente se vistam de maneira mais "chamativa", por assim dizer. Como assim, Brasil? Numa reportagem que andou circulando no facebook, fica bem clara a noção de que se um homem é tentado por uma mulher, a culpa é dela e até orienta os homens a negarem ajuda a mulheres bonitas, para evitar o pecado. Nããããão, gente! Socorro!!! E aí vem a velha e péssima noção de que é a culpa é da mulher que usa muita maquiagem, que usa roupa curta, que anda com as pessoas erradas, que decide ser independente... Dá pra entender o problema?
É isso que me dói lá no fundo do meu S2, por que comparar? Por que denegrir quem você acha diferente? Se é pra seguir o exemplo de Jesus, vamos, antes de tudo, tentar não julgar os outros e deixar que cada um use de seu livre arbítrio como bem entender? Respeito é bom dentro da igreja e fora dela. Da mesma forma que eu acho horrível preconceito religioso, também acho horrível gente que se acha superior por acreditar em Deus. E é por tudo isso que esse é um assunto polêmico e cá estou eu, de novo, com medo de ser apedrejada virtualmente.

Mas, em tempo, não culpo a igreja evangélica e, menos ainda, a Sarah Sheeva. Aliás, ela me pareceu uma pessoa bem sensata na entrevista que deu pra Marília Gabriela. O problema é que o tempo todo nos ensinam o que é mulher pra casar e o que não é, o que é a cachorra e o que é a princesa. Vou te falar, nem princesa nem cachorra encontra príncipe encantado, porque nada disso existe! Ninguém ensina a gente a buscar amores reais, ninguém ensina que as pessoas são como são, com defeitos e qualidades tão palpáveis quanto as nossas, mas enfim, isso já é assunto para um outro post...

terça-feira, 3 de julho de 2012

Uma Pérsia que poucos conhecem

Já faz algum tempo que eu cobro de mim mesma um post sobre Persépolis, uma graphic novel de Marjane Satrapi. Antes de prosseguir com o post, vou falar um pouquinho sobre quadrinhos pra situar o povo, já que eu sei que rola um certo preconceito em relação aos quadrinhos, eu mesma achava que quadrinhos se dividiam em apenas 3 categorias: o mangá, o de herói e o infantil!
Tudo isso mudou quando comecei a namorar o meu lindo e maravilhoso Carlos Lins ♥, que me mostrou o quadrinho como meio de comunicação (o que o classifica mais como um comunicólogo vanguardista do que como um nerd inveterado, será?). Inclusive, existe uma matéria na faculdade de Comunicação Social chamada Oficina de Histórias em Quadrinhos, ministrada pela professora Selma Regina, autora do livro “Mulher ao quadrado: as representações femininas nos quadrinhos norte-americanos”.
Enfim, o que eu queria dizer mesmo é que o quadrinho é um meio muito rico, que está entre nós há um bom tempo e até hoje tem gente que não sabe reconhecer o valor desse material, tipo eu há algum tempo.

Acontece que esse meu namorado vivia me falando de como eu ia adorar Persépolis e que eu tinha de ler e tal e tudo. Primeiro ele me convenceu a ver a animação, que eu adorei! Daí ele ficou me cutucando intelectualmente, dizendo que tinha muito mais coisa no quadrinho, que eu tinha de ler! Um belo dia ele estava cercado de quadrinhos, escrevendo a monografia, então eu resolvi pegar o Persépolis dele emprestado. Fiquei tão maravilhada ao ler aquilo que agora quero todos os quadrinhos da Marjane Satrapi (a saber "Frango com Ameixas" e "Bordados")!


A coisa mais interessante a respeito desse quadrinho é que ele é a história de vida da Marjane, uma menina iraniana que cresceu em meio a guerras e a um regime totalitário. Nascida numa família com ideias esquerdistas, ela mostra todo o estranhamento de uma garota que, de uma hora para outra, teve de começar a usar o véu para sair de casa, quando o que queria de verdade era usar camisetas de suas bandas de rock ocidentais favoritas. Crescer com ideais modernos naqueles tempos de guerra não era saudável para a integridade de Marjane, então, aos 14 anos, seus pais a mandaram para a Áustria. Nessa etapa do quadrinho, vemos todo o choque cultural entre Satrapi e seus amigos ocidentais.
Mas Persépolis não fala apenas de guerra, ele nos mostra que existe vida inteligente no oriente. É duro dizer com todas as letras, mas, de fato, boa parte dos ocidentais acredita que o povo oriental, principalmente do Oriente Médio, é menos desenvolvido intelectualmente e culturamente. Marjane mostra que, apesar de todos os conflitos, os iranianos não deixaram de viver, de pensar e de se divertir e que houve sim uma resistência. O bom de ler e se deixar envolver por obras de culturas que não conhecemos direito é que elas nos surpreendem e abrem nossos olhos para os nossos preconceitos. Além do mais, sempre é bacana aprender com o outro, não?
Eu falaria muito mais, mas se eu desandar a escrever aqui, vou contar toda a história do livro e esse post vai ficar impossível de ler. A minha dica é: assistam a animação, leiam o quadrinho e se deliciem!




domingo, 17 de junho de 2012

Pobre Dra. Lygia

Well well, eis uma coisa sobre mim: eu adoro televisão! Como estudante de comunicação, acho fascinante o poder que essa mídia tem, principalmente no Brasil, aonde o pessoal tem mais TV em cores do que esgoto, por exemplo. É isso que me leva a pensar sobre o que se está passando para todo esse povo, já que a TV também é uma ferramenta capaz de reforçar antigos estereótipos, mas também propor novas ideias. Gosto especialmente das novelas, quem é que não assiste novela no Brasil? Bom, eu assisto e adoro. Ultimamente ando aficionada por "Cheias de Charme", não perco um capítulo! E como eu curto mesmo analisar representações na TV, lá vou eu falar um pouco sobre a Dra. Lygia Mariz Ortega, personagem vivida por Malu Galli.




Quando se fala em mulher bem-sucedida, todo mundo já pensa ou numa solteirona ou numa mãe ausente, acho super triste essa ideia, já que não é bem assim quando o assunto é com os homens. A equação é meio que homem bem-sucedido = feliz e mulher bem-sucedida = infeliz. E aí está a Dra. Lygia fazendo exatamente esse papel. Lygia é uma excelente advogada, ganha muito bem, obrigada, tem um senso ético elevadíssimo e é competente até dizer chega; é casada com um lindo espanhol e tem dois filhos saudáveis. Até aí tudo bem. O grande problema é que ela precisa se dividir entre a carreira e a casa, como é o caso de grande parte das mulheres nos nossos dias. A advogada tem um dedo podre para escolher empregada e, por outro lado, é impossível para ela dar conta sozinha do trabalho doméstico, seu filho mais velho, Samuel, é praticamente um delinquente juvenil e vive culpando a ausência da mãe por seu mau comportamento. Quando tenta tirar algum tempo extra para cuidar da casa, leva broncas do chefe e se compromete no emprego.

Na última semana, em especial, tive ainda mais pena da pobre personagem. Quando finalmente ia trabalhar menos, ela foi demitida injustamente pelo chefe. No mesmo dia, o filho foi preso por vandalismo e lá foi ela ter de advogar por ele. Chegando em casa, ainda teve de ouvir Samuel discursando sobre como ela é uma péssima mãe por priorizar sua carreira. Para piorar, ela ainda descobre que está com uma apendicite supurada e tem de ser internada. É muito sofrimento pra uma semana só, não? Vamos combinar! Isso porque  ela ainda nem faz ideia de que sua empregada perfeita, Maria da Penha, se demitiu por ter sofrido assédio sexual do patrão, o amante latino, Alejandro.
É muito carma, cara. Será que é esse o custo do sucesso?

Aparentemente, tudo o que Dra. Lygia fez para merecer isso foi ser a provedora da casa. E cadê o Alejandro para ajudar, já que ele apenas faz bicos como fotógrafo? No hay! O cara só faz correr, malhar o corpinho lindo e dar em cima das empregadas do condomínio Casa Grande. O triste é que essa realmente é a imagem que se tem: olha, você quer trabalhar, quer ter uma carreira, então ou você abdica de ter marido e filhos ou se vira para conciliar os dois. E se o homem quiser ser o dono de casa - diferente do Alejandro, que pra mim é um personagem bem folgado - enquanto a mulher trabalha? Pode crer que ele também vai sofrer preconceito, porque isso é coisa de mulher!

Eu realmente torço para que a novela ache uma solução para a doutora, sem que ela tenha de largar o trabalho por isso. É aí que entra o papel da TV de propor novos modelos. Já está mais do que na hora de parar de mostrar as mulheres apenas como donas de casa, e aí é que "Cheias de Charme" dá um passo à frente: todas as mulheres das novela trabalham ou já trabalharam. E é bacana representar famílias que fujam ao modelo nuclear tradicional, com a mãe cuidando dos filhos e pai trabalhando. Por mais que as coisas ainda estejam injustas para Lygia, ainda temos um avanço: é uma mulher, ocupando um cargo de poder e sendo a principal responsável pelo sustento da casa. Já é uma mudança de padrão!


No mais, desculpa aí pelo texto arrastado, galera. Foram algumas semanas sem escrever, estou meio enferrujada :)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Peitos

Eu ia escrever um post sobre a Marcha das Vadias, que aconteceu agora no dia 26, mas certos fatos me levaram a mudar de ideia na última hora. Acontece que rolou um peitaço no final da marcha, lá na rampa do Museu Nacional, e acabei de saber que, por conta disso, uma amiga minha recebeu ligações com teor ofensivo. O assunto já vinha me incomodando há um tempo, dese que coloquei no facebook um ensaio dos meus extintos piercings nos mamilos. Metade da minha família está brava comigo por conta dessas fotos, mas eu não vou retirar, não fiz absolutamente nada de errado. Não sei por que as pessoas insistem em confundir nudez com erotismo ou pornografia. Para mim, são eles que vêem sexo em tudo.

Agora me explica: qual é o grande problema com peitos?

Todo mundo tem peitos, só que uns tem a permissão de mostrar e outros não. Até galinhas tem peitos, e eu não conheço ninguém que tenha uma ereção ao ver dois pedaços de peito de frango assado. Não entendo tamanha condenação, sério! A primeira coisa que vemos na vida são peitos. Quando a gente é criança, meninos e meninas correm pela praia sem camisa e sem problemas. Depois nosso peito começa a crescer, dói pra caramba, e a gente ainda tem de apertar eles em sutiãs, sem poder reclamar alto, pra nenhum homem ouvir.


Então o peito da mulher vira playground para os caras, e a gente é obrigada a cobrir a fonte do desejo. Sexo não é para moças de bem. Quando engravidamos, eles incham, enchem de leite e doem mais um bocado. Alimentamos as bocas dos mesmos babacas que dizem que é feio amamentar em público. Sofremos com o câncer de mama, envelhecemos e aturamos piadas. As que podem, dão logo um jeito de colocar silicone, gastar uma nota, passar por cirurgia e torcer para a prótese não arrebentar. Por mais difícil que seja, ainda é mais confortável seguir os padrões de beleza.

Não estou dizendo que quero ver todo mundo andando pelado por aí. A sociedade tem regras, we got it. Nós controlamos nosso calor, nosso desconforto, e continuamos cobrindo nossos peitos. Agora, vocês também controlem esse tesão reprimido de vocês e parem de confundir manifestação política com pornografia.

Cara, isso não tem NADA a ver com os pênis de vocês!

sábado, 12 de maio de 2012

Eu e o dia das mães

Minha mãe e seu exemplo de feminilidade
Finalmente vou poder colocar para fora um pouco da minha revolta com o dia das mães. Eu sei que datas comemorativas sempre geram seus contras, quaisquer que sejam, mas eu sinto que nenhuma delas tem tanto apelo emocional quanto o dia das mães.
Não tem como eu falar disso sem levar em conta minha experiência pessoal, afinal, tenho implicância com a data desde que perdi minha mãe, quando eu tinha 13 anos. Mas sei também que estou longe de ser a única pessoa no mundo a passar por isso. Todo ano, assim que a publicidade de dia das mães começa a passar na TV, meu corpo já vai apresentando os sintomas: fico irritada, mais suscetível ao pânico, com dificuldade de concentração, deprimida e com a imunidade baixa. Agora, pelo menos, eu conheço muito bem a razão do meu problema, até porque, já tinha alguma noção do mundo quando perdi minha mãe, já conversei isso um bocado na terapia e já estou no meu quarto ano do curso de comunicação, então pode-se dizer que eu entendo uma ou outra coisa de mídia. Nem assim eu consigo evitar esse mal estar. Agora, você imagina quantas pessoas devem estar em situação parecida, talvez não com os mesmos sintomas, mas, certamente, com a mesma sensação de inadequação.

Não estou falando aqui só dos "órfãos de mãe". Há uma maioria gigantesca que não é representada nessas publicidades. Vamos combinar, quantas mães se parecem com modelos de 25 anos? E quantas delas gostam e/ou tem tempo de cozinhar ou de arrumar a casa? Cadê as mães divorciadas? Cadê as mães chefes de família? Cadê as mães lésbicas? Cadê as mães negras? Na TV é que elas não estão. O que se vê é um modelo que não muda nunca: a mãe amorosa, bonita e dona de casa, sem opções. Ela deve ser assim. Empurram padrões de beleza e de comportamento e quem não se encaixa que arque com as consequências.


Me preocupa, principalmente, essa história do amor materno. É uma coisa imposta, não é uma coisa natural. A mãe DEVE ser a coisa mais importante na vida do filho, por isso fazemos propagandas apelativas, pra te lembrar disso. Você que não tem mãe ou cuja mãe é ausente, chega pra lá ou muda de canal, porque você não é público consumidor. Por outro lado, essa mesma mensagem é passada para as mães também, a partir do momento que você é mãe, você é obrigada a amar incondicionalmente sua cria, não porque você quer, mas porque a sociedade manda. O mesmo não é imposto ao pai, qual é a comoção que se vê quando um pai abandona o filho? Homem é assim mesmo, não é?
Eu não to falando tudo isso porque quero abolir o dia das mães, longe de mim. Eu falo porque acho que tá na hora de se refletir sobre mensagens como essas, sobre o lugar que é colocado a mãe e sobre as consequências disso. Porque, pelo que eu vejo agora, ser mãe ainda é um reducionismo do que é ser mulher ou, mesmo, do que é ser humano.

sábado, 5 de maio de 2012

Laços de sangue X Laços afetivos

Aproveitando meu último post, vou continuar refletindo um pouco sobre a questão do aborto na televisão. Comecei uma pesquisa no ano passado sobre como são tratados os bebês indesejados nas novelas e, sem muita surpresa, percebi que eles simplesmente morrem!

Ninguém quer sua emissora exposta a uma opinião pública que condene veementemente o aborto, mas também, nada de crianças de "sangue ruim" poluindo as sólidas famílias novelísticas. A solução é uma escada aqui, um acidente de carro ali, uma queda, um tropeço, qualquer coisa que justifique um aborto espontâneo.
Isso ficou muito claro na novela "Insensato Coração", em dois momentos. O primeiro foi com Irene, personagem de Fernanda Paes Leme, seu bebê era altamente indesejado, já que atrapalhava o romance de Pedro e Marina. Convenientemente, Irene é atropelada pelo vilão, Léo, e morre junto com o bebê. Problema resolvido!

Outro caso, bem pior, aliás, foi o de Cecília e Vinícius. Pra começar, Vinícius é um filho bastardo, super mau caráter, que espanca gays por
diversão. Completamente apaixonado, ele embebeda Cecília, a leva pra cama inconsciente e transa com ela sem camisinha. Quando descobre a gravidez, a irmã da moça, Leila, sugere um aborto, que Cecília nega imediatamente, dizendo que "jamais seria capaz de fazer isso com seu filho". Em vez disso ela opta pela segunda opção mais óbvia, o casamento, claro! Só que na porta da igreja, Vinícius é preso por ter assassinado um homossexual, então a esperta Cecília vai visitá-lo, fala para ele ficar longe do bebê dela e, tchanam, ele a empurra e ela magicamente perde o filho! Afinal, como é que ela ia se arriscar a ter um filho de um bastardo, super mau caráter, que espanca gays por diversão e ainda está no meio de seu romance com o rico Rafael? Jamais, né?

O que me surpreende é que a adoção nunca é nem sugerida. Aliás, na maior parte das novelas, a questão da adoção só é abordada quando motivação para o adotado procurar seus "pais verdadeiros". Sim, nas novelas os laços de sangue ainda aparecem quase como garantia para uma família feliz, e lá vamos nós, pisando num assunto que já é pouco incentivado por aqui. Agora deu para aparecer a questão do sangue até quando se fala de inseminação artificial, palavras como "mãe verdadeira", "pai verdadeiro", destituindo completamente a força dos laços afetivos.

A gente nem ouve falar em coisas como "parto anônimo", por exemplo, que é quando a mãe tem o direito de permanecer incógnita durante todo o processo do parto e entregar o filho para a adoção já no hospital, depois de 30 dias de nascido (tempo determinado para a criança ser reclamada por algum parente), aumentando em muito as chances do bebê ser adotado, já que a maior parte dos órfãos no Brasil não são adotados por já terem "passado da idade". Acho que o parto anônimo ainda não é nem legalizado por aqui, o que é estranho, se formos considerar o alto nível de crianças abandonadas que vemos nos jornais.

Isso sim é interessante, não é? Não temos uma política decente de prevenção de gravidez, sério, não temos! Até porque, lá vai a igreja proibir o anticoncepcional e a camisinha, não é? O aborto também não é legalizado. As políticas de adoção são complicadas e o parto anônimo é pouco discutido. Ainda temos a TV nos empurrando noções como "sangue do meu sangue". No fim das contas, realmente, só sobrou pra coitada da Cecília a opção de casar e/ou convenientemente perder a criança.

Comparo essas situações com o caso da Quinn Fabray (de Glee) ou da Juno (do filme "Juno). As duas adolescentes americanas tiveram gravidezes indesejadas e optaram por entregar os bebês para a adoção. Isso não quer dizer que foi fácil, não quer dizer que não teve sofrimento ou hesitação, as duas quase desistiram várias vezes e, no caso da Quinn, até rolou uma depressão pós-parto e tudo. Acho que tem de haver coragem, sim, por vários motivos. Da mesma forma que deve haver coragem para abortar, da mesma forma que deve haver coragem para escolher criar uma criança, da mesma forma que deve haver coragem para, em casos mais extremos, casar com alguém que você não gosta só para criar o filho. Coragem a gente é obrigada a ter, mas e quanto às opções?

Mas nem tudo está perdido, em "A vida da gente", a personagem Alice (Sthefany Brito) vive uma relação super agradável com os pais adotivos, apesar de insistir sempre em procurar os pais biológicos, por mais decepcionante que seja. Agora, nessa nova "Cheias de Charme", Rosário (Leandra Leal) é o maior amor do mundo com seu pai adotivo e até agora ela não apresentou nenhuma crise do tipo "preciso saber de onde vim". Ainda há uma esperança, quem sabe estamos caminhando, a passos de tartaruga, para um Brasil aonde os laços afetivos sejam realmente o que importa?

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vamos falar de religião?

Já faz um tempo que eu quero tocar nesse assunto, mas a coisa realmente me cutucou com força depois de todas essas questões em torno do aborto de anencéfalos. Daqui a pouco eu coloco minha opinião a respeito, mas primeiro quero contar minhas experiências pessoais com religião.

Cresci em família católica e fui bastante fiel a essa religião até a morte da minha mãe de câncer. Eu me revoltei loucamente, porque achava que Ave Maria não tinha ouvido minhas preces, sendo que eu jurava que uma menina de 13 anos, que separasse pelo menos 1 hora do seu dia, todos os dias, para rezar o terço, deveria ser atendida. Hoje sei que as coisas não funcionam assim, existem outras questões envolvidas, mas esse foi o estopim para me fazer romper com a religião católica.
Depois disso, fui morar com meu pai, que é Testemunha de Jeová há
algum tempo. Comecei a me envolver com a religião dele, mas devido às restrições que chocavam severamente com a minha criação, também rompi com as TJ e aos 14 anos fui morar com minha avó. Nessa época eu estava começando a entrar em contato com o universo gay e a questionar a vovó um bocado, que dizia que não era natural pessoas do mesmo sexo se beijando. Minha descrença chegava a ser desrespeitosa.
Poucos anos depois disso, me envolvi com o espiritismo, porque de fato comecei a ver e sentir coisas que eu não sabia explicar. Li muitos livros, tomei passe, fui a cultos. Também me envolvi muito com astrologia, até aprendi a fazer mapas astrais.
Mudei para a wicca um ou dois anos depois disso, meti o pé fundo no paganismo e ocultismo. Fiz inúmeros rituais de magia branca, mas continuei acreditando em um pouco de tudo.
Daí pra frente foi minha fase agnóstica/ateia. Comecei a questionar a existência de Deus, das religiões e das doutrinas que colocam nas nossas cabeças. Foi bem difícil, porque foi nessa época que eu descobri que tinha Síndrome do Pânico e eu estava numa fase bem crítica, achava que ia morrer se eu atravessasse a rua ou coisa do tipo. Comecei a ter uma fixação super negativa pela morte, não conseguia dormir com medo de morrer, ficava pensando "Gente, e se não houver nada depois? E se a gente morrer e acabou?". Foi um desespero só, eu pensei em procurar acreditar em alguma coisa para não me sentir tão vazia, mas não achava legítimo procurar alguma crença só pra aliviar meus medos.
Nessa mesma época meu irmão começou a estudar a bíblia com as TJ e eu tive certa inveja, porque a crença dele era tão nítida, eu não conseguia ver nem uma célula de dúvida nele, enquanto eu tinha dificuldade de acreditar em qualquer coisa. Meu irmão estava vivendo em paz e eu estava mais atordoada que nunca.
Mas foi em um dia tranquilo, enquanto eu estava estudando astrofísica para um roteiro, que eu tive uma certeza tão grande, monumental, de que Deus existe. Caramba, como eu fiquei tranquila naquele dia, porque eu não conseguia mais negar pra mim. Eu sabia que eu estava fazendo um esforço gigantesco para duvidar da existência Dele, então assumir foi um grande alívio. Acho que, de alguma forma, eu saí do armário!
Só que não parou por aí, se eu ia acreditar em Deus, eu precisava saber mais, eu precisava acertar minhas contas com Ele. É que de acordo com tudo o que eu já tinha estudado em feminismo, a bíblia devia a nós, mulheres, umas boas satisfações. Então fiz o que eu achava mais inteligente, decidi conhecer para criticar, pedi ao meu pai para me ensinar sobre a Bíblia e hoje eu sou estudante do assunto.
Depois de todas essas indas e vindas, hoje me defino como cristã, porque acredito em Jesus Cristo, mas duvido que algum dia vou chegar a ser Testemunha de Jeová, mesmo sendo uma religião com que me identifico. Na verdade, eu não acho que eu vá me agregar a religião qualquer, mas eu sou feliz estudando a Bíblia e crendo em Deus.
Acho que é a primeira vez que eu realmente estou assumindo isso: "Sou cristã, amo e acredito em Deus". É meio difícil dizer isso num mundo em que a moda é ser ateu, e é mesmo! Eu tenho medo sim do preconceito, que existe e é grande. Sei que os ateus também sofrem preconceitos, aliás, discordantes sempre sofrem. Eu acho que ninguém devia ser desrespeitado ou excluído pela escolha que faz, acho que foi isso que o John Lennon quis dizer com "imagine no religions", sabe, a gente pode viver tranquilo sem ficar empurrando nossas crenças e opiniões goela abaixo dos outros. Acho que nada deve ser imposto. Por mim, aboliriam-se piadas de padres pedófilos, evangélicos mercenários e TJ's batendo em suas portas. Eu divido sim as coisas que eu acredito, mas jamais vou insistir em "converter" uma pessoa que não quer ser convertida, até porque acredito no livre-arbítrio E no direito de ir e vir. Sou cristã (por enquanto só cristã, como gosto de dizer), metade da minha família é Testemunha de Jeová, outra metade é Católica, meu namorado é kind of ateu, como boa parte dos meus amigos, e ninguém tem de brigar por isso! Por que é tão difícil?





Agora, questão do aborto. Depois de tudo o que eu disse, eu continuo a favor da legalização do aborto, não só em caso de anencefalia! Acho que deve ser uma escolha da mulher e que ela deve sim ser amparada pelo Estado. Aliás, ser a favor da legalização do aborto não tem nada a ver com minha escolha pessoal, eu tenho minhas crenças, acho que eu não faria um aborto, mas não acho que por isso outras mulheres, que tem crenças completamente diferentes, deveriam ser privadas do direito sobre seus corpos. Acho que a legalização do aborto não devia ser barrada unicamente por argumentos religiosos, sendo que nosso Estado é supostamente laico. E o motivo é muito simples, é que religião é uma questão de escolha pessoal e política, querendo ou não, é uma falta de escolha coletiva! A lei tem de valer para todos, não só para os que creem em Deus! Além do mais, ninguém vai fazer um aborto "só porque" tá liberado (no caso da anencefalia). Se você não quer fazer um aborto, não faça um aborto. Mas você não pode obrigar outra pessoa a acreditar na mesma coisa que você! Se o próprio Deus nos deu o direito de discordar Dele, de fazer nossas próprias escolhas, quem somos nós para castrar esse direito? Sei que a questão em torno do aborto é bem maior, entram aí ainda a definição de vida, a criminalização da mulher e mais um monte de outras coisas, mas em geral essa é a minha opinião!

Esperando não ser apedrejada, sem mais!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Julie e o desaparecimento da infância

Todo mundo já deve ter visto os famosos vídeos de Julie Lourenço, li que a menina tem 3 anos, mas não quis acreditar. Caso alguém ainda não tenha ouvido falar, clica aqui antes de ler o post, para se ter uma noção da coisa. Vi uma galera compartilhando os vídeos dela, achando super fofo e engraçado. De fato, a menina é um prodígio, muito inteligente e, sim, fofa e engraçadíssima, mas o que me preocupou é que ninguém achou estranho uma menina dessa idade saber usar toda essa maquiagem. Galera, eu só fui ouvir falar em Duda Molinos aos 19 anos!
Ok, muitos vão argumentar que faz parte da infância experimentar, que brincar com maquiagem é normal. Sim, concordo, mas até que ponto? Eu tinha um monte de batonzinhos quando era menor (até comia eles, eram gostosos!), ganhei uma série de kits de sombras, maquiava barbies, mas curvex, blush, corretivo, só fui saber o que era isso há pouquíssimo tempo! Meu primeiro lápis de olho eu usei aos 15 anos (numa vibe meio rock star). Uma menina de 3 anos saber como passar rímel, realmente é preocupante!
E a Julie é só um exemplo, não é nada difícil encontrar criancinhas fazendo coisas de adulto e todo mundo achando
lindo. Quando eu entro na ala infantil de uma loja de roupas, não sei se choro ou se morro de rir. Parece que querem fabricar pequenos adultos em série, vamos começar a padronizar desde já.
Brinquei no facebook dizendo que ia lançar uma campanha contra a bonequização das filhas. Gente, a coisa é séria. Graças a uma série de fatores, incluindo a forte influência dos meios de comunicação e do consumismo, a infância de fato vem desaparecendo, e isso me parece mais flagrante nas meninas.
Desde pequenas, já ganhamos brinquedos que dão dicas do que devemos fazer das nossas vidas: máquina de costura, cozinha, bebê que faz caquinha, vassourinha, enfim. Num universo ilimitado, que vem em todos os tons de rosa e roxo. Agora, as meninas ainda são ensinadas a virar objetos antes mesmo de saber o bêabá. Brincar não é mais prioridade, a beleza e o dinheiro vêm em primeiro lugar. 

Daí temos os casos extremos, como as pequenas misses, que todo mundo adora apontar o dedo e dizer que é um absurdo com a criança, que é a mãe querendo ficar rica a custo da filha. Todo mundo chamando de montra a mãe que deu um vale silicone pra filhinha de 5 anos, mas ninguém enxerga que o inferno está muito mais próximo do que pensamos. Na sandália da Xuxa que ou paralisa a menina, ou a faz torcer o tornozelo toda vez que tentar correr. Para quem pensar que eu estou exagerando (e pra quem não achar também, porque é uma ótima dica), sugiro que assistam pelo menos ao trailer do documentário "Criança, a alma do negócio", que fala da influência do consumismo no desenvolvimento das crianças. Para quem quiser assistir o documentário inteiro, a partir do trailer vocês acham rapidinho no youtube!
Vamos lá, gente, brincar é uma parte importantíssima do aprendizado. Brincar de verdade, correr, se sujar, colocar a mão na massa. Não sou nenhuma perita no assunto, mas o pessoal de psicologia há de concordar que, no mínimo, brincar é parte fundamental do desenvolvimento psicomotor (por favor, corrijam aí se eu estiver falando baboseiras!). Agora, mais do que nunca, do jeito que esse mundo anda, precisamos mesmo é de pessoas que olhem mais umas para as outras, jamais vamos conseguir isso se ensinarmos às crianças desde cedo a olharem somente para si.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Fina Estampa e os mesmos velhos rótulos

Acho que já deve ter dado pra notar que eu curto mesmo estudar televisão, sempre assisto novela, mesmo que seja só para me revoltar. "Fina Estampa" foi um bom exemplo disso, ô novelinha difícil de aturar, mas eu vi do início ao fim, então posso falar com conhecimento de causa que foi a pior novela que eu já assisti! Os personagens não fazem o menor sentido, não têm motivação nenhuma, são todos tão rasos que eu sinceramente não sei como alguém conseguiria se identificar com eles.

De qualquer forma, o que me irritou de verdade nessa novela não foi nem o fato de ser mal escrita, quilos de novelas da Globo são assim, mas cara, quando ela estava estreando, vieram aquelas chamadas pretensamente feministas - obviamente se aproveitando dessa suposta "onda feminista" que vem acontecendo no Brasil desde a posse da Dilma e das 10 ministras - e, no fim das contas, todas as personagens femininas não passam de estereótipos gastos. Vou fazer um panorama de algumas dessas mulheres, queria fazer de todas, mas o post já vai ficar grande o suficiente com as dez que eu selecionei, então vamos direto a elas:


Griselda da Silva Pereira: É a grande bandeira da novela, sinal do fim dos tempos! Quer coisa mais gasta do que masculinizar uma mulher para poder justificar sua força interior? Claro, porque personalidade forte é um traço masculino, então eles investiram nisso com tudo. Griselda é conhecida como "Marido de aluguel", "Pereirão" e "Bigoduda". Para fazer serviço de homem, ela tem de se travestir em um macacão de mecânico, mas quando ela está milionária e se veste "como uma mulher", ela pode ser frágil, chorar por amor e todos os clichês associados à "feminilidade". Como se não bastasse, sempre que precisa, Griselda tem sua masculinidade ali, à mão, na sua famosa chave de grifo, seu falo, que fica sempre em sua bolsa. Isso é que é mulher, não é não, revista Veja?


Teodora Bastos da Silva: Essa é uma mistura de estereótipos. De início, ela é a femme fatale da novela, a loira má (afinal, sempre tem uma loira má, não é?) que seduz os homens indefesos para tirar vantagem. Depois, com um empurrãozinho do bom e velho mito do amor materno, Teodora faz as vezes de filho pródigo, tentando reconquistar a confiança da família da Silva Pereira, para poder ficar perto do filho que abandonou anos atrás. Por fim, temos o estereótipo da mãe, quando Teodora engravida de seu "amor verdadeiro" (mais um estereótipo, olha aí!), a maternidade abona todos os pecados da loira, fazendo uma divisão nítida entre a mãe e a prostituta. Aliás, durante toda a novela, a personagem é diminuída, sendo chamada de piriguete, já que usa roupas curtíssimas e gosta de mostrar o corpo, apenas no fim da novela, quando decide se casar novamente com Quinzé, é que Teodora passa a ser chamada de "ex-piriguete", afinal, agora ela tem um homem a quem pertencer!


Maria Amália da Silva Pereira: Amália é a princesa encantada da história. Isso resume completamente a personagem, porque nada mais é agregado a ela. Lembra que eu disse que os personagens dessa novela são altamente superficiais? Amália serve unicamente para amar seu príncipe encantado, sofrer, perdoar e ser salva por ele. É uma personagem que corrobora aquela velha noção de que o amor verdadeiro muda tudo e vence qualquer coisa, até o mau caráter de seu namorado, que de uma hora para outra, justificado unicamente pelo amor, vira um dos maiores mocinhos da novela.



Danielle Fraser: Essa pra mim realmente foi de matar. Danielle é uma mulher bem sucedida profissionalmente, viúva, totalmente focada na carreira. É claro que isso está errado! Aonde já se viu mulher ser feliz sem homem? Ok, eu sabia desde o início que isso não ia ficar assim, que a personagem ia ser a tal da mal amada feliz na carreira e infeliz no amor e, portanto, que logo iam arrumar um homem para ela, mas tinha de ser do jeito que foi? Danielle está andando na rua, fugindo de um cara inconveniente que deu em cima dela numa festa, quando, é claro, o tal cara (Enzo), começa a segui-la na rua, assediando-a. Ela evita ele, fala que não tá afim e o cara agarra ela e a beija a força. O que ela faz depois? Denuncia na delegacia da mulher? Claro que não, Danielle percebe que vive muito sozinha e que se um cara desses a quer, ela está no lucro. Então ela chama o Enzo para subir no seu apartamento, transa com ele e os dois vivem felizes para sempre. É, rede Globo, é isso assim mesmo que acontece, a gente está louca para ser atacada na rua pelo "amor da nossa vida".


Vanessa Tavares Ribas: Como não poderia faltar, temos a típica lolita. Vanessa faz o papel da menininha que tem fetiche por homens mais velhos, ela me lembra um pouco a Mel Lisboa em "Presença de Anita", sempre com aquele olhar sedutor e comportamento travesso, porque se um homem mais velho olha para uma mocinha dessas, a culpa é sempre dela, já estamos cansadas de saber que os homens só agem por instinto, não é?




Celeste Souza Fonseca: Nada mais nada menos do que "a mulher que apanha do marido". Só que, em vez de colaborar com a Lei Maria da Penha, eles enfiam nas nossas cabeças que os maridos que espancam mudam sim, desde que a mulher tenha amor próprio e saiba se impor. Baltazar bate em Celeste diariamente, até que Griselda intervem e faz a amiga denunciá-lo, depois de parar na cadeia, ele volta a morar com a mulher, ela volta a dividir a cama com ele - aliás, as cenas de amor entre os dois são quentíssimas, sempre embaladas pelo tema "Amor covarde", de Jorge e Mateus. No fim das contas, visto que Baltazar continua violento e machista, Celeste o expulsa de casa, depois o aceita novamente, mas agora ela é quem o domina, sem nunca deixar de amá-lo. Realmente, o amor faz milagres!


Dagmar dos Anjos: A negra da novela. A Globo tem dessas coisas, sempre escolhe uma ou duas personagens para ser "a negra da novela". Quantos negros será que tem no Rio de Janeiro, né? Pois sim, como a cota é limitada, parece que eles decidem acumular um bocado de tipos em uma só personagem. Dagmar faz a mulher trabalhadora, esforçada, boa na cozinha, que cria com muito custo os filhos, sem marido por perto, tudo com uma relação de causa e consequência com sua etnia. Além disso, Dagmar também faz a mulher objeto, mais do que todas, porque é da cor do pecado. Não consegui entender por que ela é a única que toma banho de mangueira na laje, sendo que é vizinha de Celeste e Griselda.


Marcela Coutinho: Cara, eu não consigo entender como é que a Globo sempre vem falar de jornalismo sério e mimimi, sendo que toda santa novela tem uma jornalista inescrupulosa que faz de tudo para conseguir um furo, uma matéria de capa. Marcela faz a jornalista sedutora, que sempre dá aquele jeitinho de descobrir o que quer, sempre se apoiando na curiosidade inerente às mulheres de querer saber da vida dos outros. Além do mais, mulheres conseguem tudo o que querem se souberem usar seu corpo. Marcela se enfia onde não deve, descobre um grande segredo e é apagada, como toda boa jornalista.




Solange de Souza Fonseca: Também se encaixa no estereótipo lolita, mas vai um pouco além. Não sei se o Aguinaldo Silva quis fazer uma homenagem à cultura do funk, mas, se foi, epic fail para ele! Solange faz a garotinha sensualizada, sempre deixando a barriga a mostra e rebolando até o chão. Tem mais, Sol não gosta de ir à escola, porque ela prefere ficar rebolando o popozão, mas não faz mal, porque acaba que ela é um sucesso de público, no final das contas o funk vai sustentá-la!



Tereza Cristina Velmont: Deixei por último a personagem mais injustiçada. Tereza Cristina foi feita pura e simplesmente para ser a vilã, sem qualquer motivo aparente. Ela não tem história, não tem motivação e é todinha feita para você não gostar. Para começar, Tereza faz pelo menos um escândalo por dia, além de ser uma patroa terrível, sempre maltratando seus empregados. Mais ainda: ela é a rica, sangue azul, que odeia pobre. Também é uma péssima mãe e uma mulher dependente (que depois se revela uma ninfomaníaca reprimida). Ela pensa primeiramente nas aparências e em último lugar no bem estar de sua família. Não há nada que torne Tereza uma personagem identificável, ela é intrinsecamente má.

Sem mais!