domingo, 17 de junho de 2012

Pobre Dra. Lygia

Well well, eis uma coisa sobre mim: eu adoro televisão! Como estudante de comunicação, acho fascinante o poder que essa mídia tem, principalmente no Brasil, aonde o pessoal tem mais TV em cores do que esgoto, por exemplo. É isso que me leva a pensar sobre o que se está passando para todo esse povo, já que a TV também é uma ferramenta capaz de reforçar antigos estereótipos, mas também propor novas ideias. Gosto especialmente das novelas, quem é que não assiste novela no Brasil? Bom, eu assisto e adoro. Ultimamente ando aficionada por "Cheias de Charme", não perco um capítulo! E como eu curto mesmo analisar representações na TV, lá vou eu falar um pouco sobre a Dra. Lygia Mariz Ortega, personagem vivida por Malu Galli.




Quando se fala em mulher bem-sucedida, todo mundo já pensa ou numa solteirona ou numa mãe ausente, acho super triste essa ideia, já que não é bem assim quando o assunto é com os homens. A equação é meio que homem bem-sucedido = feliz e mulher bem-sucedida = infeliz. E aí está a Dra. Lygia fazendo exatamente esse papel. Lygia é uma excelente advogada, ganha muito bem, obrigada, tem um senso ético elevadíssimo e é competente até dizer chega; é casada com um lindo espanhol e tem dois filhos saudáveis. Até aí tudo bem. O grande problema é que ela precisa se dividir entre a carreira e a casa, como é o caso de grande parte das mulheres nos nossos dias. A advogada tem um dedo podre para escolher empregada e, por outro lado, é impossível para ela dar conta sozinha do trabalho doméstico, seu filho mais velho, Samuel, é praticamente um delinquente juvenil e vive culpando a ausência da mãe por seu mau comportamento. Quando tenta tirar algum tempo extra para cuidar da casa, leva broncas do chefe e se compromete no emprego.

Na última semana, em especial, tive ainda mais pena da pobre personagem. Quando finalmente ia trabalhar menos, ela foi demitida injustamente pelo chefe. No mesmo dia, o filho foi preso por vandalismo e lá foi ela ter de advogar por ele. Chegando em casa, ainda teve de ouvir Samuel discursando sobre como ela é uma péssima mãe por priorizar sua carreira. Para piorar, ela ainda descobre que está com uma apendicite supurada e tem de ser internada. É muito sofrimento pra uma semana só, não? Vamos combinar! Isso porque  ela ainda nem faz ideia de que sua empregada perfeita, Maria da Penha, se demitiu por ter sofrido assédio sexual do patrão, o amante latino, Alejandro.
É muito carma, cara. Será que é esse o custo do sucesso?

Aparentemente, tudo o que Dra. Lygia fez para merecer isso foi ser a provedora da casa. E cadê o Alejandro para ajudar, já que ele apenas faz bicos como fotógrafo? No hay! O cara só faz correr, malhar o corpinho lindo e dar em cima das empregadas do condomínio Casa Grande. O triste é que essa realmente é a imagem que se tem: olha, você quer trabalhar, quer ter uma carreira, então ou você abdica de ter marido e filhos ou se vira para conciliar os dois. E se o homem quiser ser o dono de casa - diferente do Alejandro, que pra mim é um personagem bem folgado - enquanto a mulher trabalha? Pode crer que ele também vai sofrer preconceito, porque isso é coisa de mulher!

Eu realmente torço para que a novela ache uma solução para a doutora, sem que ela tenha de largar o trabalho por isso. É aí que entra o papel da TV de propor novos modelos. Já está mais do que na hora de parar de mostrar as mulheres apenas como donas de casa, e aí é que "Cheias de Charme" dá um passo à frente: todas as mulheres das novela trabalham ou já trabalharam. E é bacana representar famílias que fujam ao modelo nuclear tradicional, com a mãe cuidando dos filhos e pai trabalhando. Por mais que as coisas ainda estejam injustas para Lygia, ainda temos um avanço: é uma mulher, ocupando um cargo de poder e sendo a principal responsável pelo sustento da casa. Já é uma mudança de padrão!


No mais, desculpa aí pelo texto arrastado, galera. Foram algumas semanas sem escrever, estou meio enferrujada :)

3 comentários:

  1. O chato disso tudo é que, como você mesma falou, a gente tem isso bem introjetado. Quem de nós nunca teve medo pela carreira quando pensou em planejar a idade de ter filhos ou o contrário? Mas a verdade é que a gente dá conta de muitas coisas ao mesmo tempo sim. Todo mundo consegue, né. É questão de personalidade e não de gênero.

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  2. Isso é outra coisa, né, Tchel! Por esses modelos de que a mulher TEM de cuidar da casa é que surgem sentimentos de culpa quando ela decide focar na carreira. Há uma cobrança geral, inclusive dela mesma!

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  3. Acho que nem é "só" isso. Não me vejo obrigada a cuidar de casa nenhuma mais do que qualquer pessoa que more nela, mas tenho medo de não ser boa mãe por ser apaixonada pelo trabalho... Ou de deixar de ser boa profissional por acreditar que me apaixonarei pela Luísa (ou Gabriel). rs

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