sábado, 12 de maio de 2012

Eu e o dia das mães

Minha mãe e seu exemplo de feminilidade
Finalmente vou poder colocar para fora um pouco da minha revolta com o dia das mães. Eu sei que datas comemorativas sempre geram seus contras, quaisquer que sejam, mas eu sinto que nenhuma delas tem tanto apelo emocional quanto o dia das mães.
Não tem como eu falar disso sem levar em conta minha experiência pessoal, afinal, tenho implicância com a data desde que perdi minha mãe, quando eu tinha 13 anos. Mas sei também que estou longe de ser a única pessoa no mundo a passar por isso. Todo ano, assim que a publicidade de dia das mães começa a passar na TV, meu corpo já vai apresentando os sintomas: fico irritada, mais suscetível ao pânico, com dificuldade de concentração, deprimida e com a imunidade baixa. Agora, pelo menos, eu conheço muito bem a razão do meu problema, até porque, já tinha alguma noção do mundo quando perdi minha mãe, já conversei isso um bocado na terapia e já estou no meu quarto ano do curso de comunicação, então pode-se dizer que eu entendo uma ou outra coisa de mídia. Nem assim eu consigo evitar esse mal estar. Agora, você imagina quantas pessoas devem estar em situação parecida, talvez não com os mesmos sintomas, mas, certamente, com a mesma sensação de inadequação.

Não estou falando aqui só dos "órfãos de mãe". Há uma maioria gigantesca que não é representada nessas publicidades. Vamos combinar, quantas mães se parecem com modelos de 25 anos? E quantas delas gostam e/ou tem tempo de cozinhar ou de arrumar a casa? Cadê as mães divorciadas? Cadê as mães chefes de família? Cadê as mães lésbicas? Cadê as mães negras? Na TV é que elas não estão. O que se vê é um modelo que não muda nunca: a mãe amorosa, bonita e dona de casa, sem opções. Ela deve ser assim. Empurram padrões de beleza e de comportamento e quem não se encaixa que arque com as consequências.


Me preocupa, principalmente, essa história do amor materno. É uma coisa imposta, não é uma coisa natural. A mãe DEVE ser a coisa mais importante na vida do filho, por isso fazemos propagandas apelativas, pra te lembrar disso. Você que não tem mãe ou cuja mãe é ausente, chega pra lá ou muda de canal, porque você não é público consumidor. Por outro lado, essa mesma mensagem é passada para as mães também, a partir do momento que você é mãe, você é obrigada a amar incondicionalmente sua cria, não porque você quer, mas porque a sociedade manda. O mesmo não é imposto ao pai, qual é a comoção que se vê quando um pai abandona o filho? Homem é assim mesmo, não é?
Eu não to falando tudo isso porque quero abolir o dia das mães, longe de mim. Eu falo porque acho que tá na hora de se refletir sobre mensagens como essas, sobre o lugar que é colocado a mãe e sobre as consequências disso. Porque, pelo que eu vejo agora, ser mãe ainda é um reducionismo do que é ser mulher ou, mesmo, do que é ser humano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário