segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vamos falar de religião?

Já faz um tempo que eu quero tocar nesse assunto, mas a coisa realmente me cutucou com força depois de todas essas questões em torno do aborto de anencéfalos. Daqui a pouco eu coloco minha opinião a respeito, mas primeiro quero contar minhas experiências pessoais com religião.

Cresci em família católica e fui bastante fiel a essa religião até a morte da minha mãe de câncer. Eu me revoltei loucamente, porque achava que Ave Maria não tinha ouvido minhas preces, sendo que eu jurava que uma menina de 13 anos, que separasse pelo menos 1 hora do seu dia, todos os dias, para rezar o terço, deveria ser atendida. Hoje sei que as coisas não funcionam assim, existem outras questões envolvidas, mas esse foi o estopim para me fazer romper com a religião católica.
Depois disso, fui morar com meu pai, que é Testemunha de Jeová há
algum tempo. Comecei a me envolver com a religião dele, mas devido às restrições que chocavam severamente com a minha criação, também rompi com as TJ e aos 14 anos fui morar com minha avó. Nessa época eu estava começando a entrar em contato com o universo gay e a questionar a vovó um bocado, que dizia que não era natural pessoas do mesmo sexo se beijando. Minha descrença chegava a ser desrespeitosa.
Poucos anos depois disso, me envolvi com o espiritismo, porque de fato comecei a ver e sentir coisas que eu não sabia explicar. Li muitos livros, tomei passe, fui a cultos. Também me envolvi muito com astrologia, até aprendi a fazer mapas astrais.
Mudei para a wicca um ou dois anos depois disso, meti o pé fundo no paganismo e ocultismo. Fiz inúmeros rituais de magia branca, mas continuei acreditando em um pouco de tudo.
Daí pra frente foi minha fase agnóstica/ateia. Comecei a questionar a existência de Deus, das religiões e das doutrinas que colocam nas nossas cabeças. Foi bem difícil, porque foi nessa época que eu descobri que tinha Síndrome do Pânico e eu estava numa fase bem crítica, achava que ia morrer se eu atravessasse a rua ou coisa do tipo. Comecei a ter uma fixação super negativa pela morte, não conseguia dormir com medo de morrer, ficava pensando "Gente, e se não houver nada depois? E se a gente morrer e acabou?". Foi um desespero só, eu pensei em procurar acreditar em alguma coisa para não me sentir tão vazia, mas não achava legítimo procurar alguma crença só pra aliviar meus medos.
Nessa mesma época meu irmão começou a estudar a bíblia com as TJ e eu tive certa inveja, porque a crença dele era tão nítida, eu não conseguia ver nem uma célula de dúvida nele, enquanto eu tinha dificuldade de acreditar em qualquer coisa. Meu irmão estava vivendo em paz e eu estava mais atordoada que nunca.
Mas foi em um dia tranquilo, enquanto eu estava estudando astrofísica para um roteiro, que eu tive uma certeza tão grande, monumental, de que Deus existe. Caramba, como eu fiquei tranquila naquele dia, porque eu não conseguia mais negar pra mim. Eu sabia que eu estava fazendo um esforço gigantesco para duvidar da existência Dele, então assumir foi um grande alívio. Acho que, de alguma forma, eu saí do armário!
Só que não parou por aí, se eu ia acreditar em Deus, eu precisava saber mais, eu precisava acertar minhas contas com Ele. É que de acordo com tudo o que eu já tinha estudado em feminismo, a bíblia devia a nós, mulheres, umas boas satisfações. Então fiz o que eu achava mais inteligente, decidi conhecer para criticar, pedi ao meu pai para me ensinar sobre a Bíblia e hoje eu sou estudante do assunto.
Depois de todas essas indas e vindas, hoje me defino como cristã, porque acredito em Jesus Cristo, mas duvido que algum dia vou chegar a ser Testemunha de Jeová, mesmo sendo uma religião com que me identifico. Na verdade, eu não acho que eu vá me agregar a religião qualquer, mas eu sou feliz estudando a Bíblia e crendo em Deus.
Acho que é a primeira vez que eu realmente estou assumindo isso: "Sou cristã, amo e acredito em Deus". É meio difícil dizer isso num mundo em que a moda é ser ateu, e é mesmo! Eu tenho medo sim do preconceito, que existe e é grande. Sei que os ateus também sofrem preconceitos, aliás, discordantes sempre sofrem. Eu acho que ninguém devia ser desrespeitado ou excluído pela escolha que faz, acho que foi isso que o John Lennon quis dizer com "imagine no religions", sabe, a gente pode viver tranquilo sem ficar empurrando nossas crenças e opiniões goela abaixo dos outros. Acho que nada deve ser imposto. Por mim, aboliriam-se piadas de padres pedófilos, evangélicos mercenários e TJ's batendo em suas portas. Eu divido sim as coisas que eu acredito, mas jamais vou insistir em "converter" uma pessoa que não quer ser convertida, até porque acredito no livre-arbítrio E no direito de ir e vir. Sou cristã (por enquanto só cristã, como gosto de dizer), metade da minha família é Testemunha de Jeová, outra metade é Católica, meu namorado é kind of ateu, como boa parte dos meus amigos, e ninguém tem de brigar por isso! Por que é tão difícil?





Agora, questão do aborto. Depois de tudo o que eu disse, eu continuo a favor da legalização do aborto, não só em caso de anencefalia! Acho que deve ser uma escolha da mulher e que ela deve sim ser amparada pelo Estado. Aliás, ser a favor da legalização do aborto não tem nada a ver com minha escolha pessoal, eu tenho minhas crenças, acho que eu não faria um aborto, mas não acho que por isso outras mulheres, que tem crenças completamente diferentes, deveriam ser privadas do direito sobre seus corpos. Acho que a legalização do aborto não devia ser barrada unicamente por argumentos religiosos, sendo que nosso Estado é supostamente laico. E o motivo é muito simples, é que religião é uma questão de escolha pessoal e política, querendo ou não, é uma falta de escolha coletiva! A lei tem de valer para todos, não só para os que creem em Deus! Além do mais, ninguém vai fazer um aborto "só porque" tá liberado (no caso da anencefalia). Se você não quer fazer um aborto, não faça um aborto. Mas você não pode obrigar outra pessoa a acreditar na mesma coisa que você! Se o próprio Deus nos deu o direito de discordar Dele, de fazer nossas próprias escolhas, quem somos nós para castrar esse direito? Sei que a questão em torno do aborto é bem maior, entram aí ainda a definição de vida, a criminalização da mulher e mais um monte de outras coisas, mas em geral essa é a minha opinião!

Esperando não ser apedrejada, sem mais!

2 comentários:

  1. Sis, não sabia que você tinha blog (:
    Não sabia também de toda essa sua peregrinação religiosa, por assim dizer. Eu também fui criada em família católica, mas eu nunca acreditei em nada do eu via ou ouvia nas missas ou nas aulinhas de primeira comunhão ou crisma. Também passei por esse período de angústia, procurando no que acreditar, até que eu concluí que não acreditava em nada. Pra mim, esse foi meu sair do armário.
    Vale ressaltar que, diferente desses ateus de modinha, eu não acho burrice alguém ter uma crença. Eu respeito as opções alheias, e adoraria que todos respeitassem a minha.
    Eu fico incomodada com gente ignorante que usa a religião como justificativa pra tudo, inclusive para negar a uma mulher o direito de interromper uma gravidez de um filho que vai morrer dentro de horas. É difícil pensar em algo mais triste do que gestar um filho que nunca vai te amar, crescer e ter uma vida.
    Por isso, eu concordo plenamente com você que, sendo um estado laico, toda mulher deveria ter o direito de escolher (ou não) abortar. Quem sabe daqui a alguns anos?

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  2. Pois é, eu acho que, da mesma maneira que ser cristão, muitas vezes, é motivo pra preconceito, ser ateu também é, só que muita gente não vê isso. Uma coisa que eu odeio é quando dizem "Fulano matou 15 pessoas? Isso é muita falta de Deus no coração", quer dizer que um cristão nunca vai matar alguém porque é cristão? Ou que um ateu vai matar alguém porque é ateu?
    Eu penso que em todo âmbito da vida sua liberdade acaba quando a de outra pessoa começa, mas o que eu mais vejo é um monte de gente querendo se meter na vida pessoal das pessoas. Já sabe os prós e contras? Pensou direito no assunto? Então deveria ser uma opção, sabe?
    E essa opinião não quer dizer que eu sou a favor dos maus tratos às crianças, que quero que elas morram. Agora, é tenso se basear numa verdade bíblica pra legislar tanto sobre pessoas que creem na Bíblia quanto sobre pessoas que não creem. Pra mim a injustiça é óbvia!

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