quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Sobre como aprendi a voar

Salve, hipotético público do meu blog! Como podem ver, as coisas andam meio diferentes por aqui, como não poderia deixar de ser, já que agora eu sou uma Sarah inteiramente nova. Ainda ando cheia de opinião pra dar e receber, porque a gente muda, mas o ascendente continua sendo em Gêmeos, né? Mas andei colocando as asinhas de fora e, embora ressuscitando este tão querido diário virtual, há de se perceber que muita coisa na minha cabeça tem mudado nesses 4 anos desde a última vez que escrevi (graças a Deus), mas é claro que a essência da coisa e da Sarah continua a mesma (graças a Deus!).
Ultimamente tenho um monte de coisas sobre as quais quero escrever, mas, pra começo de conversa, quero contar como cheguei até aqui. Vamos lá, da última vez que estive por esse blog, eu era uma estudante de Comunicação Social, ligeiramente agnóstica e mentalmente perturbada por uma Síndrome do Pânico que já me fazia companhia desde a adolescência. Pois bem, a Sarah de hoje resolveu conquistar o sonho antigo de viver das Letras, carrega a Umbanda no coração e achou em si tamanha segurança em ser-se que já não deixa medo nenhum a dominar.
Como isso aconteceu? Sei lá, mas suspeito que foram anjos. Um dia meu irmão me contou que os anjos nada mais são do que pessoas que alcançaram o fundo do poço e tiveram de encarar seus maiores demônios, mas que, lá do meio de sua própria escuridão, conseguiram enxergar uma réstia de luz, pegar impulso lá do fundo e se jogar no melhor que se pode ser. De certo modo, foi isso que aconteceu comigo, fui descobrindo minhas asinhas de anjo e agora ando aprendendo a voar.
Em 2013, ainda dominada pelo pânico, fui a uma festa na rua com meu primo. Ouvi uma conversa sobre um tiroteio e meu coração começou a acelerar. Pouco depois soube que um homem havia sido baleado ali, naquela mesma rua, há alguns minutos. Senti a crise começar a bater. O ar me faltava, as extremidades começavam a tremer. Procurei meu primo imediatamente, eu precisava sair dali. Ele tinha bebido e dizia bem distraidamente que não poderia dirigir. Foi quando vi dois camburões repletos de policiais armados até as unhas, armas enormes, correndo pelo perímetro das quadras, provavelmente procurando o autor do disparo. Eu precisava sair dali. E se a crise batesse? Se eu perdesse o controle, ia acabar no chão, semi epilética, e não conseguiria sair daquela situação de risco. O medo de perder o controle foi o que me deu segurança para pegar a chave do carro do meu primo e nos levar pra casa, sem pensar duas vezes.
Passei o dia inteiro sem conseguir falar, estava traumatizada. Quem já viveu o pânico sabe que qualquer detalhe pode virar um gatilho. Quando estava em crise, eu não conseguia dormir, porque poderia morrer durante o sono. Às vezes tinha medo de levantar, porque poderia cair e bater a cabeça perigosamente, então acabava passando horas deitada imóvel... Enfim, eram as mais criativas possibilidades de ser ameaçada pelo mundo. Eu tinha medo de viver. No dia seguinte ao incidente, só a ideia de sair de casa já me evocava mil e uma balas perdidas. Fiquei preocupada com o que minha própria mente podia aprontar e mandei mensagem para o meu irmão explicando a situação, porque além de ser estudante de psicologia na época, ele sempre foi um grande mentor pra mim. Ao conversar comigo, meu irmão me questionou "Sarah, qual é seu sonho?". Eu não sabia qual era meu sonho, mas sabia que queria sair de Brasília e viver uma nova experiência em outra cidade, desde pequena eu tinha essa vontade. "Como você vai viver em outra cidade se você tem medo de andar na rua?". Aquilo me calou fundo. No mesmo dia, resolvi caminhar no fim de tarde. Há anos eu não saía àquela hora, porque tinha medo de sair de casa à noite. Respirei fundo e comecei a prestar atenção à minha volta. Não sei se vocês sabem, mas cada pôr do sol em Brasília é um espetáculo à parte, com todo aquele céu, com todas aquelas cores. Naquela paisagem linda, pessoas caminhavam tranquilamente. Tranquilamente! Então eu percebi "Sim, Sarah, qualquer coisa pode te matar, mas isso não é motivo para deixar de viver".
Quando aconteceu o tiro, fiquei traumatizada de certo modo. Mas, ao contrário do estresse pós-traumático, acho que tive o não tão famoso crescimento pós-traumático. Foi algo que me assustou tanto que me fez repensar a minha vida e querer me superar. A partir de então, tive meu processo de anjo e iniciei meu processo de saída do meu fundo de poço.
A partir de então, comecei a sair de casa, me soltar completamente. Conheci novas pessoas, me permiti acontecer. Foi quando conheci Bruninha, outro anjo, que há pouco tempo havia sofrido uma experiência muito similar à minha com o pai que, como minha mãe, havia perdido a luta para o câncer. A Bruna era minha vizinha e passou a me dar caronas para a UnB. Seu pai era escritor e professor de Letras, desde pequena ela estava acostumada a esse universo, foi mais que natural mostrar para ela minhas poesias, dizendo que um dia queria ser escritora. Um dia ela olhou pra mim com aqueles olhos capazes de ler sua alma inteira, e me falou convicta e sorridente "Sarah, você não vai ser escritora um dia, você já é! Você tá no curso errado, devia estar fazendo Letras!". Sim, a Bruna leu meu sonho estampado na minha cara que, até então, eu nunca tinha percebido.
Passei a pegar matérias de Letras junto com a Bruna, assim meu sonho foi se definindo diante de mim. Depois trabalhei no Centro Cultural do Banco do Brasil, onde pude conhecer a arte da mediação, trabalhando com públicos diversos. Era como se cada dia eu desse uma aula diferente. E isso me satisfazia completamente. Mais se define o sonho: sim, quero ser professora de português!
Mais ainda, além de definir um sonho e objetivo de vida, passei a equilibrar várias áreas da minha vida, estava me sentindo muito plena. Passei a fazer capoeira e yoga, trabalhando meu corpo e minha mente. Passei a frequentar semanalmente palestras de parapsicologia. Por fim, conheci meu terreiro de Umbanda e senti um enraizamento ancestral, passei a frequentar o terreiro 3 vezes por semana. Cada vez mais eu senti minhas plumas tornarem-se penas e, quando me senti pronta, resolvi tentar voar sozinha. Resolvi sair de Brasília e fazer um curso de Letras, logo passei no vestibular pra UFSC e me mudei para Florianópolis. E, há 1 ano e meio, tenho estudado o que realmente amo, aprendendo a me virar sozinha e, dia a dia, crescendo um pouquinho mais. É claro que ainda tenho mundos e universos para crescer, sei disso. Eu só dei o primeiro passo rumo ao meu sonho, mas consigo vê-lo e me recuso a perdê-lo de vista. Acho que a grande mudança que se operou em mim de lá pra cá, é que agora tenho consciência de quem nasci pra ser e não abro mão de jeito nenhum de tudo que vi em mim, de tudo que tive de superar para chegar até aqui e de tudo que aprendi nesse processo. Agora estou de volta, cheia de novos pontos de vista, e prontinha para dividir com vocês o que tenho visto nesses vôos, ainda desajeitados!

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